quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ainda bem que deu "aqueles 5 segundos"...

De trem mais uma vez... mais uma aventura! De Varanasi a Bodh-Gaia! Durante a viagem de trem conheci Rishi, um jovem indiano. Ele estava com seus pais e já havia percorrido 16 horas no trem. Eles estavam indo visitar sua irmã. Ele era professor e havia se formado em Farmácia. Ele ainda não era casado, mas seus pais estavam a procura de uma noiva para ele, o que é super normal lá. De uma maneira geral, todos aceitam bem esta situação. Os pais do filho procuram uma jovem de família com dinheiro, boa reputação e da mesma casta. As famílias se conhecem e depois a pretendente é apresentada ao futuro noivo. Se ambos estão de acordo, o casamento ocorre em poucas semanas. Caso um deles não esteja de acordo, há mais alguns encontros até a confirmação ou não do interesse. É assim que funcionam os casamentos na Índia e Nepal. Cheguei em Bodh-Gaia com uma chuvinha e havia um motorista e um jovem amigo do motorista me aguardando.
Após mudar de agência de viagens e ter conhecido o dono da agência, Nando Mishra, fui bem melhor atendida! Não sei, mas acho que o Nando ficou interessado... sabem... aí me ligava para saber como estava, mandava mensagem no celular. Ele deu umas pisadinhas de bola, mas nada grave comparadas com a agência anterior. Engraçado!!!
No trem, conheci um casal de espanhóis e o motorista disse que poderiam ir conosco até o centro. Reforcei com o casal para eles perguntarem se cobrariam ou não, e eles disseram que não! Alguns dias depois, encontrei o casal e eles disseram que haviam cobrado um dinheirinho... Not nice!!!
O jovem amigo do motorista, chamado Raju, disse que pintava sankas que são tipos de quadros com madalas e imagens de Budas. Ele disse que economizava dinheiro para continuar os estudos no Nepal. Disse para me mostrar seu trabalho e era realmente lindo. Depois, comentou que havia um amigo que acabara de se ordenar monge e que ele iria me apresentar. Toda essa atenção... hum... muito estranho. Depois, soube que ele não era artista e seu amigo era um falso monge. Estelionatário total. E o dito monge, tinha um presente para mim, um mala (um corrente com bolinhas de madeira, pedra ou osso para recitar mantras) que ele dizia estar abençoado pelo primeiro discípulo de Dalai Lama, esqueci o nome. Disse a ele que já tinha um mala e que ele podia presentear alguém que não tivesse. Not very good again... Mas, já estava “expert” em detectar essas coisas!
Bodh-Gaia é a cidade onde Siddharta Gotama se tornou um ser de mente pura, se iluminou! No centro da cidade há o “Main Temple”, que se encontra a árvore Bodh onde Gotama permaneceu meditando sob seus galhos até atingir o estado de iluminação. No centro do local há um Templo construído pelo Rei Ashoka, MARAVILHOSO!!! E, atrás desse templo está a árvore Bodh. Ao redor, há um jardim maravilhoso, um pequeno lago com a imagem de Buda ao meio e um pequeno templo onde Buda Shayamuni passou em meditação após a iluminação.
Em Bodh-Gaia, há vários monatérios de diversas escolas e tradições budistas de todo o mundo. Há muitos monges de diversas partes do mundo nesta cidade.

Vejam o vídeo e algumas fotinhos do "Main Temple" e da cidade:


















P.S.: Quase em todos os lugares sagrados por onde passei havia muitos visitantes de Sri-Lanka. Eles estão sempre com roupas brancas. Povo de muita fé!!!

No dia seguinte fui para Rajgir visitar a “Montanha dos Abutres”. Desta vez estávamos em 4 pessoas, eu e mais três queridos jovens austríacos. Um deles era super loirinho de olho azul, ele era a atração do povo. E Gilbert, o mais velho deles, era budista também.
O local que fomos visitar fica no alto de uma montanha e é possível chegar até lá por meio de um teleférico ou a pé. Fomos de teleférico. A vista era linda!!! Chegando ao topo da montanha e fomos recepcionados por alguns macacos, até que grandes.
O lugar é bonito! Há uma estupa enorme onde podemos andar em volta com imagem de Buda e um templo ao lado.
Primeiro, andamos em torno da estupa, uma energia muito boa e depois visitamos o templo. Dentro do templo havia três pessoas: um recitando um mantra, outro ajudando com as oferendas e outro tocando um tambor. A sensação era de paz!
Este local foi onde Buda Shakyamuni, Avalokistevhara (Buda da Compaixão, emanação da compaixão de Buda) e Shariputra (discípulo de Buda Shakyamuni) deram ensinamentos sobre a “vacuidade”.
Vejam algumas foitinhos e vídeos:











Depois de solicitações de várias fotos comigo e com os meninos, conseguimos partir para Nalanda.
Nalanda foi uma Universidade Budista do século V ao século XII. De acordo com fontes tibetanas, Nagarjuna, Asanga e Vasubandhu ensinaram lá. Nalanda foi uma das primeiras universidades a aceitar alunos residentes, que lá moravam. Durante sua existência chegou a contar com mais de 10.000 estudantes e 1.500 professores. Em 1193, a Universidade de Nalanda foi saqueada por invasores muçulmanos. Quando o tradutor tibetano Chag Lotsawa visitou-a em 1235 encontrou-a em parte destruída, mas ainda funcionando com um pequeno número de monges.
Nalanda etimologicamente significa "aquele que dá conhecimento".
A destruição de Nalanda assim como de templos e monastérios no norte da Índia, onde havia centros de estudos, é considerado por vários historiadores como a causa do súbito desaparecimento do antigo pensamento científico indiano na matemática, astronomia, alquimia e anatomia. Restam algumas ruínas de Nalanda, que hoje não é mais habitada. Em 1951, um moderno centro de estudos budistas Pali (Theravada) foi fundado perto de Nalanda, o Nava Nalanda Mahavihara. O Museu de Nalanda contém alguns manuscritos e vários itens achados em escavações.
Vejam um vídeo e algumas fotinhos de Nalanda:












Depois, partimos para nossa última visita, Mountain Cave, a caverna onde Siddharta Gotama ficou durante 6 anos em retiro. Eu estava super cansada e começou a chover. Ainda para melhorar a situação comecei a ficar um pouco enjoada. Para chegar ao local passamos por um vilarejo extremamente pobre, miserável. Para terem uma idéia, as pequenas portinhas que eram quitandinhas pesavam as coisas com aquela balança de ferro e dois pratos suspensos por correntes de cada lado. Haviam vacas e porcos dentro das casas. Passamos no local no horário onde as crianças chegavam da escola de Tuk-Tuk, super lotado. As ruas de terra, molhadas da chuva: lama, lama, lama. Não foi fácil, não... Nó na garganta total!!!
Chegamos ao local!!! Pensei: Acho que vou ficar no carro, ver uma caverna... mas, aí deu aqueles "5 segundos" e pensei comigo: Claudia, quando você terá esta oportunidade de novo? Conhecer a caverna onde Siddharta Gotama ficou por 6 anos... FORÇA!!! Reuni minhas forças, peguei meu guarda-chuva e o motorista falou: - Cuidado lá em cima com as pessoas... Aí, aí, aí!!!! Bom, estava com os meninos.
Começamos a subir uma colina e, de um certo ponto, dava para avistar o “Main Temple” em Bodh Gaia, bem de longe. Depois, umas escadas... comecei a suar de verdade e o coração bater mais forte, mais tinha que seguir os meninos e haviam uns senhores que insistiam em ser nosso guia logo a frente. Ok!!! Chegamos!!!
Quando entrei na Caverna, uauuu... Uma outra energia... Eu me sentei lá dentro e sem pensar, fechei os olhos e comecei a meditar... Pingava, pois havia subido o morro, parado bruscamente e dentro da caverna ainda estava quente. Abri os olhos e todos olharam para mim... opsss!!! Éramos os últimos visitantes do dia e acho que o coordenador do local deixou que ficássemos mais tempo que o normal lá dentro!!!
Quando saí da caverna, parecia que tinha renovado toda a minha energia!!! Incrível!!! Parecia outra pessoa!!! Com uma sensação de muita gratidão no coração e alegria!!! Foi emocionante este momento!!! Sem dúvidas, foi o melhor passeio do dia!!! Quando estava descendo a colina e olhei para a paisagem e para o local, lembrei-me muito do Ganden Ling, Serra da Bocaína...
Gotama passou 6 anos nesta caverna. E, houve um momento em que decidiu interromper o retiro pois estava magérrimo e precisava se alimentar. E a comida lhe foi dada por alguém do vilarejo. Gotama acreditava no Caminho do Meio, pois se ficasse por mais algum tempo na caverna ele morreria sem atingir sua meta final. 

Caminho do Meio (fonte: wikipedia)
Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:
- a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
- o meio-termo entre determinadas visões metáfísicas;
- uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
- outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
Mais um vídeozinho e fotos para vocês:











Na próxima postagem, finalizarei minhas visitas por alguns locais onde Buda Shakyamuni esteve e contarei algumas histórias para vocês sobre Kushinagar e Lumbini!
Espero que estejam curtindo!!!

Obs.: Escrevo do Nepal, em Pokhara... logo em breve no blog!!!

Saudades!!!

Grande beijo no coração,
Claudia

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SARNATH: primeiros ensinamentos de Buda Shakyamuni

Além de conhecer a Índia, havia outra coisa que me levou a visitar este país. Conhecer alguns lugares por onde esteve Siddharta Gotama, conhecido por Buda Shakyamuni, após se tornar um ser de luz.
Após conhecer o Taj Mahal em Agra, parti para Varanasi. Uma cidade por onde passa o Ganges, chamado de “Ganga” em hindi. É uma cidade bem antiga, a maioria das pessoas hinduístas. Porém, como as outras cidades que visitei, havia muito trânsito, buzina e para variar todo mundo ficava me olhando quando andava na rua. Era um tal de Namaste pra cá, Namaste para lá, essencialmente, pelos comerciantes!
Meu primeiro passeio foi em Sarnath, a 15 km de Varanasi, local onde Buda Shakyamuni, após quarenta e nove dias de se tornar um ser iluminado foi solicitado a dar ensinamentos. Em função desse pedido, ele saiu de seu estado meditativo e começou a dar ensinamentos sobre as *4 nobres verdades e, assim, girou pela primeira vez a **Roda do ***Darma.

* Definição das Quatro nobres verdades: verdadeiros sofrimentos, verdadeiras origens, verdadeiras cessações e verdadeiros caminhos. Elas são denominadas “nobres” porque são objetos supremos de meditação. Meditando sobre elas podemos realizar diretamente a verdade última e nos tornar um Ser Superior, ou nobre.

 ** Definição Roda do Darma: uma coleção de ensinamentos de Buda. Às vezes, refere-se ao chakra do coração porque este é o lugar onde visualizamos o Dharmakaya, que é a fonte da Roda do Darma.

 ***Definição de Darma: os ensinamentos de Buda e as realizações interiores alcançadas na dependência de praticá-los. Darma significa proteção. Colocando os ensinamentos de Buda em prática, protegemo-nos contra sofrimentos e problemas.

Neste passeio, eu tive a chance de ter um guia muito querido e que irá lhes explicar sobre este local espiritual. Vejam só:


Um coisa que vi e me deixou muito contente: estava finalizando minha visita dentro do Templo, réplica do Templo que foi destruído pelos mulçumano, e havia uma lojinha no final onde vendiam livros e outras coisinhas. Bem, fui ollhar os livros e me deparei com 3 livros de Gueshe-la na primeira fileria. Os livros de meu Guia Espiritual estão na Índia, em Sarnath, onde Buda girou a Roda do Darma! Muito auspicioso!!! Vejam as fotinhos:


















Neste mesmo dia, 12 de agosto, no período da tarde fui conhecer 2 templos Hinduístas. E, por coincidência, era o festival de Rakshabane, onde os irmãos presenteiam as irmãs como sinal de proteção e amor até o final de suas vidas. Os irmãos ganham uma fita vermelha das irmãs e amarram-na em seus pulsos. Achei bem bonito! Foi uma festa na cidade inteira.
Quando entrei num dos templos hindus, o monge me chamou e colocou a gota vermelha na minha testa e me deu umas estrelinhas brancas feitas de açúcar para comer. Tive uma sensação boa, de bençãos!
Vejam um videozinho do templo, eu e a Universidade de Sânscrito, localizada em Varanasi:




Universidade de Sânscrito

Na próxima postagem contarei um pouco sobre minha estadia em Bodh-Gaia. Mostrarei para vocês a caverna onde Buda passou 6 anos em meditação, o local onde ele se iluminou e onde ele deu o primeiro ensinamento sobre a vacuidade. E também, Nalanda, Universidade Budista que também foi destruída pelos muçulmanos... uma pena....

Esperam que tenham curtido!!! Aguardem-me com mais histórias...

Saudades...

Beijos no coração!!!
Claudia